Friday, March 16, 2007


LUZ DE NEON NO FIM DO TÚNEL
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Sei que meu texto da semana passada causou espanto e indignação a muitos leitores, afinal, não estamos acostumados a ouvir ou ler certas verdades desagradáveis sobre os estudantes. É muito mais fácil culpar as autoridades, que por sua vez também têm grande parcela de culpa “sim senhor”, e de maneira nenhuma esta trégua significa que estamos furtando delas esta responsabilidade. Aqueles “excelentíssimos” eleitos pelo povo têm, acima de qualquer outro cidadão, a responsabilidade e o compromisso de buscar, com todas as forças uma melhor educação pública para nosso país, o que parece não acontecer na prática, pois dificilmente encontramos um político que pense no povo acima de seus interesses partidários, financeiros,ou profissionais.
No que tange a prática da leitura e do estudo entre nossos alunos, duas coisas me chamaram a atenção nos últimos dias:
Uma delas, foi há duas semanas atrás, com meu amigo, compadre e colega de página no Jornal Informe de Caçador, quando ele disponibilizava aos leitores a oportunidade de contemplar uma grande obra de Carlos Drummond de Andrade, falando justamente sobre mentira e verdade, mesmo tema da minha coluna naquela edição. O que o Mário Caschinski fez foi um grão de areia na construção do conhecimento da nossa Língua e nossa Literatura, que julgo ser uma das mais ricas e diversificadas do mundo. Se todos buscassem inspiração na Literatura, compreenderíamos melhor nosso mundo, porque os olhos de um escritor são sensíveis a ponto de expor a verdade sem máscaras ou meias palavras.
Mas a maior surpresa, tive esta semana, quando questionava meus alunos sobre as obras que leram durante as férias... Em todas as turmas eu fazia uma pergunta simples: Quem leu um livro inteiro nestas férias?... Pouquíssimos levantavam a mão, em algumas turmas, não ví um único braço erguido.
Desanimado, quase rasgando meu diploma, eis que chego numa sala de primeiro ano de ensino médio e faço a mesma pergunta... Uma única e solitária menina ergue a mão, no meio da sala, declarando meio sem jeito:
“Normalmente, leio um livro por semana, professor.”
“O quê?” - Perguntei arregalando os olhos, quase não acreditando no que ouvia. Ela prosseguiu com seu relato que me fez acreditar novamente no meu trabalho:
“Verdade! Leio todas as noites antes de dormir, mas minha mãe reclama que eu fico muito tempo com a luz do quarto acesa...”
“E o que você faz?” - Indaguei curioso, como se estivesse descobrindo algo sobrenatural (e na verdade, estava)...
“Eu apago a luz do quarto e leio com a luz de neon do celular...”
Meu Deus! Neste momento, “me caiu os butiá do borso”, pois às vezes, nem eu alcanço a marca de um livro por semana, ainda mais com a família dando contra... Tive vontade de pegar aquela menina no colo, beijar-lhe a testa e sair carregando-a como se fosse um troféu pelos corredores do Wanda... Tive ímpetos de sair na janela e gritar para todo o “Martellão”: -“Eu tenho uma aluna que lê!... Isso é incrível! Vamos chamar a imprensa falada, escrita e televisionada para relatar este fato, que merece ser capa de todos os jornais e revistas, manchete do Jornal Nacional, precisa virar fofoca do TV Fama e destaque do Fantástico.”
É incrível, mas este fato me deu uma injeção de ânimo, sabendo que uma menina de quinze anos não se rende a falta de estrutura de nossas escolas públicas, nem a contrariedade de sua mãe. Então, quem sou eu para não tentar dar também meu grão de areia para salvar a educação?
Márcio Roberto Goes
Com licença, preciso ler

Polêmica
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Deu no Blog do Alon:
O presidente da República admitiu ontem que não tem soluções para corrigir -para melhor- a medíocre educação brasileira. Num lance de aparente modéstia, reconheceu também que possui poucas qualificações para discutir o assunto. O presidente atrapalha e prejudica o país quando tenta tirar o corpo fora do maior problema nacional. Se ele entende pouco da coisa, deveria proceder como parece ter feito no caso do biodiesel e do etanol: sentar-se diante da papelada e estudar o tema, até aprender. Até chegar a alguma conclusão sobre o que fazer com as nossas crianças e jovens. Eu, como sempre, vou adotar uma atitude construtiva e estou disposto a dar uma contribuição ao debate. Faço este post para isso. Até porque sou completamente inocente. Diferentemente de Lula e antecessores, nada tenho a ver com o desastre educacional brasileiro. O que me dá legitimidade para opinar. Vi que agora vão reunir de novo os especialistas para tentar achar a luz no fim do túnel. É mais um erro. Eu quero distância dos especialistas, dos pedagogos, dos teóricos e sabichões em geral que nos conduziram até o atual fracasso. Parece que os sábios vão urdir um novo pacote, com uma mixaria (R$ 2 bi por ano) de dinheiro adicional, à guisa de "estímulo", e novos mecanismos de avaliação. Está na cara que vai servir para muito pouco. Sim, servirá para Lula dizer que tem um plano para a educação. Também servirá para Lula fazer uma média com os ex-ministros Cristovam Buarque e Paulo Renato -que ele cansou de espinafrar. Ou seja, vai servir para Lula dizer que fez alguma coisa e socializar as perdas políticas com os adversários. Servirá também para manter no cargo o ministro Fernando Haddad, o operador da fazeção de média e da socialização das perdas políticas de Lula. Dizem que Haddad tem apoio na área. Nada contra o ministro, mas eu preferiria que Lula colocasse na cadeira alguém sem nenhum "apoio na área", alguém para quem os especialistas torcessem o nariz. Só para ver o que acontece. Bem, daqui a quatro anos, como os resultados terão sido certamente pífios, restará a Lula lamentar-se por ter tido "só" oito anos no Planalto, muito pouco para compensar os "séculos de descaso" com a educação. A solução? Mais quatro anos, pelo menos, para Lula ou, na pior das hipóteses, para alguém do PT. Essa conversa já conhecemos. Ela pode até ser útil para o presidente e seu partido continuarem no poder, capitalizando eleitoralmente o próprio fracasso, mas estará condenando à ignorância e ao despreparo mais uma geração de brasileiros. Se quiser mesmo ser lembrado como alguém que fez algo pela educação, Lula deveria agir diferente. Deveria ouvir os leigos. Principalmente os pais das crianças e jovens que voltam para casa todo dia sem ter aprendido nada nas escolas sustentadas com o dinheiro que o governo Lula recolhe por meio dos impostos. O principal problema da educação brasileira é a falta de foco no aprendizado, é o colapso da meritocracia, substituída por um sistema de culpas coletivas paralisantes. Se o estudante vai mal nos estudos, a culpa é "da sociedade". Se o professor está despreparado, a culpa é "do estado". Se o sujeito aparece com alguma proposta para exigir (eu disse "exigir", não "estimular") desempenho de alunos e professores, é visto como um monstro insensível, supostamente interessado em perpetuar as mazelas sociais brasileiras. Mas eu, como não sou especialista no assunto e nem sou candidato a nada, posso falar à vontade no meu blog. Eis algumas das minhas propostas para a educação pública brasileira, com o objetivo de abrir um debate:- Desvincular os reajustes dos professores da ativa e dos aposentados.- Pagar mais aos professores que dão mais aulas.- Pagar mais aos professores cujos alunos consigam melhor desempenho num sistema nacional de avaliação, feito para checar, anualmente e de maneira objetiva, os conhecimentos de todos os estudantes.- Afastar imediatamente, para reciclagem, os professores cujos alunos não atinjam notas mínimas nesse sistema nacional de avaliação. Ao final da reciclagem, esses professores deverão ser submetidos a um exame nacional de conhecimentos. Se não atingirem uma certa nota, ficarão proibidos de dar aulas até novo exame. Se forem reprovados em dois exames, serão demitidos.- Periodicamente, os professores terão que fazer cursos de atualização, ao final dos quais serão avaliados e terão seu salário ajustado, para cima ou para baixo, de acordo com o desempenho na prova.- Será estabelecida uma tabela nacional de salários de professores. Estará garantida a correção automática dos salários pela inflação anual. Aumentos reais dependerão do sistema de desempenho descrito nos itens anteriores.- Será pago um adicional de salário a professores que dêem aula em regiões de população mais pobre.- Professores estarão proibidos de fazer greve.- Serão demitidos professores que faltarem além de um limite, apertado, estabelecido em lei.- Uma parte das vagas na universidades públicas estará reservada aos estudantes com bom desempenho, ao longo de todo o seu histórico escolar, no sistema nacional de avaliação.- Haverá cotas sociais e raciais na rede pública, mas de modo declinante no tempo. Leia Cotas adicionais, temporárias e declinantes.- Haverá escolas, vagas e professores na rede pública em número suficiente para atender, em período integral, a todas as crianças desde a pré-escola até o final da 8a série.- A maior parte dos recursos para bolsas universitárias de pesquisa e pós-graduação serão destinados para as ciências ditas exatas e ditas biológicas.- Eliminar-se-á o sistema da progressão continuada.E você, tem propostas? Vamos ao debate."